sábado, 12 de dezembro de 2020

Andrea Perron Sobre Harrisville

Um dos meus filmes de terror favoritos da década passada foi Invocação do Mal. Baseado em parte em eventos reais, contou o drama da família Perron que, no começo da década de 1970, se mudou para uma casa de campo em Rhode Island e durante os dez anos seguintes teve que lidar com uma casa mal-assombrada.

Muitos anos depois, uma das filhas Perron escreveu uma trilogia de livros chamada House of Darkness, House of Light contanto sobre as experiências paranormais e assustadoras que todos tiveram na época. Os livros ainda são inéditos no Brasil, mas encontrei há algum tempo essa palestra que ela deu, em 2013, logo depois de uma exibição do filme. 




Stephen King Sobre a Escrita

E não é apenas sobre a escrita. Confie em mim.

No começo da década de noventa, Stephen King começou a acalentar a idéia de escrever um livro contando sobre o processo de se tornar um autor de ficção. Nas últimas décadas, poucos autores venderam tantos livros quanto ele, então isso o torna um verdadeiro mestre no assunto.

Tendo sua primeira edição lançada no ano 2000 - depois atualizada em 2010 - é um erro afirmar que Sobre a Escrita se resuma apenas a ensinar a técnica de se escrever ficção. É óbvio que o principal foco do livro é exatamente esse, mas também é muito mais do que isso. Eu posso dizer com toda a tranquilidade, porque o li - "devorei" seria o termo mais exato - quatro vezes.

Não, não é apenas sobre a escrita. É um relato ao mesmo tempo assustador e inspirador sobre os percalços de sobreviver da arte. Sobre as chances disso acontecer. Mas também sobre método de trabalho que se estende muito além da literatura.

Eu mesmo não posso negar que absorvi bastante coisa dos métodos que King usa no processo de criação de um livro na minha própria área. No trabalho autoral mais recente que fiz - o curta-metragem Rat - usei tais métodos durante a pré e, principalmente, durante a pós-produção. Escrever um livro de ficção é contar uma história e fazer um filme também. Apenas é uma forma diferente.

E, quer saber de uma coisa? Deu certo. Assim como Stephen, que depois de finalizar o primeiro rascunho de um livro o deixa "na gaveta" por algumas semanas para arejar a cabeça, eu também fiz assim com o Rat. Depois que eu e Herbert Santos terminamos o primeiro corte na edição, o colocamos de lado e deixamos lá por algum tempo - mal sabíamos que seriam necessários oito meses até o corte final ficar pronto, reflexo do estranho 2020.

Não, realmente não é apenas sobre a escrita. É sobre trajetórias. Inspirador por se tratar da história de um sujeito que depois de pelejar finalmente chegou lá - e continua lá - e assustador por nos darmos conta de que se um ou outro evento houvesse ocorrido de forma diferente, as coisas poderiam não ter dado certo.

E, afinal, não é assim na vida de todo mundo?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Do blog

 Redes sociais x blog.


Redes Sociais são como andar por uma rua movimentada num bairro imaginário onde moram todos os seus contatos virtuais. Os que estão online no mesmo momento que você, metaforicamente falando, estão andando na mesma rua. Você encontra todo mundo, vê foto de todo mundo, todo mundo tem a vida perfeita, todo mundo tem a única opinião certa no Universo.


Comparativamente e usando a mesma metáfora, o blog é a nossa casa virtual. Quem veio me visitar aqui, na maioria das vezes veio por conta própria, por algum interesse específico no conteúdo postado.


Já que veio me visitar, vamos tomar um café real?

Do título

Quando tinha doze anos, se qualquer pessoa me dissesse que aos 35 eu seria um ator formado, com certeza eu teria chamado ela de doida varrida, maluquinha, xarope, louca das idéias. 
Assim como 99,99999% das pessoinhas de doze anos, eu não fazia idéia do que queria ser.. No entanto, na época minha posição de grande consumidor de filmes já estava bem enraizada em mim, então eu talvez soubesse o que queria ser... apenas não tinha consciência disso ainda.

Muita coisa aconteceu e um bom tempo se passou até que eu começasse a pensar no assunto. Em 2009 - talvez 2010 - eu tive meu primeiro contato na área. Fiz um curso de teatro de curta duração no SESI de Mogi das Cruzes. Como a maioria das pessoas que fazem esse tipo de curso pela primeira vez, meu desempenho foi um desastre, pois atuação para teatro e para cinema são duas coisas totalmente distintas, Não que eu já tivesse algum conhecimento na atuação para vídeo, mas com certeza tinha menos ainda de noções de atuação no palco.
De qualquer forma, acredito que foi por volta dessa época que a sementinha foi plantada na minha cabeça. Embora eu tenha uma memória relativamente boa no que diz respeito aos acontecimentos da minha vida, é estranho como esse assunto em particular não me vem tão claramente.
O caso é que o passo seguinte foi me matricular no curso de férias da conhecida escola de teatro Macunaíma, em São Paulo. Foi lá que eu tive meu primeiro choque de realidade: se queria ser ator, primeiro teria que me desconstruir por inteiro. Talvez você que não seja da área não entenda a princípio e vou tentar explicar aqui.
Na vida social, nós temos várias máscaras. Entre elas, as que mostramos às pessoas, a que mostramos pra nós mesmos - nossa auto-imagem, talvez - e a que somos de verdade. Essa última é totalmente subjetiva, pois depende muito da visão de cada um - mesmo a nossa própria visão sobre nós mesmos tende a mudar de tempos em tempos. Você não age com seus pais da mesma maneira que age quando está com seus amigos - e, mesmo entre eles, seus modos também costumam variar de amigo para amigo. Você age de outro jeito com seus avós, seu chefe, com a garota que você gosta, com as garotas que gostam de você, com as pessoas na rua. É fato que somos muitos em um só... e também somos um que são muitos.
Complicado? Nem um pouco. Apenas pare pra pensar sobre isso e vai entender.

No entanto, quando me referi ao processo de desconstrução necessário pra pessoa que cogita entrar na área de artes, você deve estar disposto a abrir mão de todas essas máscaras externas. Colocando em miúdos, deve aprender a rir de si mesmo. Aprender a bancar o ridículo, palhaço. Colocar de lado velhos preconceitos - eles simplesmente não tem lugar em nenhuma forma de arte, a menos que você esteja disposto a se tornar um artista limitado.
E nenhum artista que se preze quer isso.
Se você nunca dançou, dance. Que se dane se ficar engraçado ou ridículo aos demais, essa é exatamente a questão. Faça caretas. Mostre a língua.
Se jogue.
Você vei ter que esquecer um pouco a vaidade. Esqueça-a por completo, é melhor.

Não há padrões. Padrões de beleza.

Seja um descolado, não um preocupado.

Acredite, não é nada fácil. Particularmente, eu fui um adolescente bem inseguro, como a maioria, mas arrastei parte dessa insegurança para a vida adulta, por um bom tempo. Fazer teatro tanto me alertou pra isso quanto escancarou isso.

Acredito que isso varie de pessoa pra pessoa, mas no meu caso levou alguns anos. Ainda leva, na verdade.

Toda a jornada até a minha formação oficial como artista foi como ser o bebê de uma gestação de três anos. Você vai se desenvolvendo aos poucos, sofrendo, se regozijando (tudo ao mesmo tempo, às vezes).

Toda mudança é difícil.

Sim, toda mudança é difícil. Repare bem no que eu disse:

TODA

MUDANÇA

É

DIFÍCIL.

(ATÉ AS MUDANÇAS PRA MELHOR. GANHE NA MEGA-SENA PRA VOCÊ VER SE SUA CABEÇA NÃO VAI PIRAR NOS PRIMEIROS DIAS)

Se você quer ganhar a vida interpretando PERSONAGENS, você tem que estar disposto a fazer essa desconstrução de si mesmo. Mas não se preocupe: depois das aulas, da peça, da gravação, você vai ser livre pra ser você de novo. Se tiver sorte, vai até notar as pequenas diferenças em si mesmo.

Ah, esse post é um tipo de explicação pro título do blog, não?

Trabalhar com arte envolve uma série de questões que você tem que aprender a lidar. Quem não é da área vai tentar te fazer se sentir culpado por você ser - ou pelo menos tentar ser. A ironia é que TODAS essas pessoas são consumidoras de arte. Quem nunca sentou o belo traseiro no sofá de casa pra ver um capítulo da novela? Ou foi ao cinema ver um filme? Ou a uma exposição? Museu? A um show?

Também há aquelas que são frustradas com a própria vida. Eu vi muito disso em alguns lugares que trabalhei, mas em outras pessoas também. 

Em alguns momentos - raros, se você tiver sorte - isso vai realmente entrar na sua cabeça e ameaçar se tornar também a sua verdade. Digo isso porque incontáveis vezes nos últimos cinco anos, quando alguém me perguntava no que trabalhava, eu hesitava em responder a verdade. Em algumas, inclusive, não só a omiti como respondi alguma outra coisa inventada na hora.

No entanto, com o tempo você começa a descobrir que até mesmo alguns de seus ídolos passaram por isso.  Ao repassar algumas de suas memórias de infância no EXCELENTE Sobre a Escrita, Stephen King disse: 

"Muitos anos se passaram - anos demais, eu acho - até que eu perdesse a vergonha do que escrevia. Acho que só depois dos 40 anos me dei conta de que praticamente todos os escritores de ficção e poesia que já publicaram uma linha que seja foram acusados de desperdiçar o talento que Deus lhe deu. Se você escreve (pinta, dança, esculpe ou canta, imagino eu), alguém vai tentar fazer com que você se sinta mal com isso, pode ter certeza. Não estou me lamentando aqui, apenas tentando mostrar os fatos como os vejo."

Não, não é vitimismo. São as coisas como são.

Por isso, quando alguém me perguntar a partir de agora:

Sou ator.

sábado, 5 de dezembro de 2020

A Morte do Superman

É verdade que ultimamente estou um pouco afastado dos quadrinhos, mas meu sentimento com relação a eles ainda é bem grande.

Tirando as clássicas histórias da Turma da Mônica durante a infância, só entrei mesmo de cabeça na minha semi-nerdice com os quadrinhos de super-heróis. Acho a Marvel e a DC totalmente equivalentes, mas houve uma HQ específica que acabou me levando mais pro lado da DC: A Morte do Superman, que por sinal foi uma das primeiras histórias de super-heróis que li na vida.

Foi a edição da Abril que li, publicada aqui em novembro de 1993. Eu já conhecia o Super, é claro, mas minha única referência até então eram os filmes com o Christopher Reeve, reprisados incessantemente – graças a Deus! – na Sessão da Tarde.  Assistidos hoje em dia, o terceiro e o quarto filme são vergonhosos, mas quando se é um pirralho, você simplesmente adora tudo aquilo.

Eu só tinha uma vaga ideia de que o Super era, na verdade um personagem dos quadrinhos. Tanto que, quando li A Morte do Super-Homem (aqui no Brasil ele só passou a ser chamado pelo seu nome original em inglês no ano 2000), minha mente sempre se voltava à figura de Reeve. Parte disso se devia também ao fato de que o principal desenhista do personagem na ocasião, Dan Jurgens, fazia um Superman bem parecido com o do cinema – ao menos na minha cabeça. Tanto que, mesmo hoje, ainda tenho Jurgens como um dos meus desenhistas favoritos do Super.

A história em si, por incrível que pareça, é bem simples. De algum lugar remoto na América do Norte, surge do solo uma criatura humanoide com apetite por destruição e morte.  Essa criatura começa a vagar, matando toda forma de vida que cruza seu caminho. Como ainda está numa região de bosques, as primeiras vítimas são animais, de pássaros a cervos. No entanto, nem mesmo as árvores são poupadas. Acaba virando questão de tempo até a criatura chegar numa área urbana, onde começa a atacar com violência carros e caminhões numa auto-estrada. Logo, um grande incêndio tem início.

A Liga da Justiça – na época formada por Gladiador Dourado, Besouro Azul, Máxima, Fogo, Gelo, Guy Gardner e pelo misterioso Bloodwynd – é chamada e, ao chegar no local, se preocupa em apagar o incêncio e em dar assistência aos feridos. As testemunhas relatam terem sido atacadas pela tal criatura.

Comparada a várias outras formações da Liga da Justiça de antes e, principalmente depois dessa época, o time nessa ocasião era relativamente fraco. Embora Superman fizesse parte da equipe, raramente ele era visto com eles, muito disso pela influência do empresário Maxwell Lord na equipe. Os outros dois pesos-pesados da editora também estavam de fora – Mulher-Maravilha e Batman - que estava envolvido com seus próprios problemas durante a saga A Queda do Morcego.

O roteirista Dan Jurgens havia “herdado” essa formação da Liga do autor Keith Giffen, que tinha tido uma fase lendária escrevendo as histórias da equipe, recheadas de bom humor. Daí a ausência dos personagens mais sérios, embora Jurgens já houvesse começado seu processo de reformulação - a presença do Superman na equipe fazia parte desse processo.

Enquanto a Liga lidava com os problemas em Ohio, Superman estava em Metrópolis dando uma entrevista aos estudantes do país no programa de Cat Grant. O programa é interrompido para uma notícia de última hora – o problema do monstro – e o Super decide ir ajudar.

Enquanto isso, a Liga vai atrás da criatura e a encontra com relativa facilidade. Em pouco tempo, a equipe é massacrada como nunca havia sido antes: basicamente TODOS os personagens ficam fora de combate. O Besouro Azul fica à beira da morte e Máxima – à contragosto – é obrigada a abandonar a batalha e leva-lo ao hospital. Somente Gelo permanece em pé e tem a ingrata tarefa de perseguir a criatura sozinha.

A história corta para um tranquilo conjunto habitacional. Um filho adolescente tem uma discussão rotineira com sua mãe quando Gelo atravessa a janela da cozinha; havia sido arremessada pela criatura, que começa também a destruir a casa. Pouco tempo depois, Superman chega, ao lado de Gladiador Dourado – que extra-oficialmente apelidou a criatura de Apocalypse (Doomsday, no original).

Aos poucos, os demais membros da Liga chegam ao local, mas estão todos bastante feridos. Com a ajuda de Superman, chegam a fazer um ataque conjunto contra Apocalypse, mas o monstro mal sente os efeitos. Sem muita dificuldade, derrota de vez a Liga da Justiça e Superman deve lidar com a criatura sozinho pelo resto da história.

A história dos bastidores de como a ideia de matar o Superman foi concebida é curiosa. No comecinho dos anos noventa, as vendas das HQ’s do Superman não estavam em seus melhores dias e, pra aproveitar o sucesso da série Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman, a ideia era casar o personagem com sua eterna amada Lois Lane, coincidindo com o que ia acontecer na televisão. No entanto, o seriado acabou tomando outro rumo – o casamento seria adiado – e a equipe criativa do Super nos quadrinhos ficou meio sem saber o que fazer. A ideia de “matar” o Super surgiu na reunião como brincadeira, mas eles decidiram levar a coisa pra frente. No entanto, o apelo da história seria algo como "o mundo sem o Superman" mas nenhum deles esperava pelo estrondo que a nóticia iria causar. Quando fizeram a anúncio de que o Superman iria morrer, o assunto foi tema de reportagens de revistas, jornais e televisão - incluindo o nosso glorioso Fantástico. 

É um dos eventos mais bombásticos da história dos quadrinhos e pra mim tem um apelo especial por ter contribuído tanto pra minha relação de consumidor não só da nona arte, mas também da cultura pop em geral.

Por aqui, se você quiser adquirir as edições brasileiras, precisa procurar pelas edições da Abril (meio raras mas ainda possíveis de serem encontradas em sebos virtuais ou físicos), da Panini (dois volumões que incluem também as histórias posteriores à morte do personagem) ou a mais enxuta, da Eaglemoss – que não menciona os desdobramentos da morte do personagem. Nos links abaixo há mais detalhes de cada uma delas.

A Morte do Super-Homem (editora Abril, 1993)

A Morte do Super-Homem (republicação, editora Abril, 1995)

A Morte do Superman (minissérie em 3 edições, editora Abril, 2002)

A Morte do Superman (dois encadernados, Panini, 2009 - 2010)

DC Comics - Coleção de Graphic Novels nº24 (Eaglemoss, 2016)

A Morte do Superman (dois encadernados, reedição, 2016)

Se ficou em dúvida sobre qual edição procurar, um dia desses achei um video excelente comparando as edições da Abril e as da Panini (com spoilers).

Pessoalmente, eu prefiro as da Abril. São mais completas, com menos cortes dos editores. 

Boa sorte na procura e divirta-se!

O Cemitério

Talvez seja meu livro favorito. Digo talvez porque também tenho um carinho especial por Stardust (Neil Gaiman) e por Belas Maldições (Gaiman e Terry Pratchett).
Isso significa que, se mesmo quase vinte anos depois eu ainda considero O Cemitério um dos meus ''top 3 dos livros que li na vida'', comecei minha experiência com King com o pé direito, porque foi o primeiro que li do cara.

(e ler Stephen King quase sempre É uma BAITA experiência)
 

Talvez a essa altura você já conheça a história. Não exatamente por causa do livro em si, mas muito provavelmente por causa das duas adaptações cinematográficas, lançadas em 1989 e em 2019. Independente da qualidade dos filmes, ter qualquer livro adaptado DUAS vezes pro cinema quer dizer alguma coisa, certo?

King se inspirou numa "quase" tragédia familiar que lhe ocorreu no início dos anos oitenta: um de seus filhos escapou por pouco de ser atropelado por um caminhão na rodovia que passava em frente a sua casa. Outra fonte de inspiração foi a existência de um cemitério de animais que havia num bosque perto de onde a família morava, no qual eram enterrados os animais domésticos e bichinhos de estimação das pessoas da região.

A terceira e, provavelmente principal inspiração de King foi o atropelamento e morte do gato de sua filha na mesma estrada citada anteriormente. Stephen e sua esposa, a romancista Tabitha tiveram uma conversa sobre contar a verdade ou não à filha.

Depois de terminado o primeiro rascunho completo, King detestou a história quando a releu. Decidiu não publicá-lo mas, algum tempo depois, teve que usar o livro como parte de um acordo para romper a parceria com sua primeira editora.. Pra variar, O Cemitério se tornou um sucesso de vendas e, pra muitos, o melhor livro do escritor.

Meu primeiro contato com a história foi, como muitos, com o filme de 1989 e não com o livro. Era o auge da era das locadoras de vídeo aqui no Brasil e eu tinha cerca de cinco anos quando o assisti - sempre adorei sentir  o medo de filmes de terror, desde pequeno. O filme me impressionou bastante, principalmente por ser aquela típica história de terror com crianças envolvidas - essas bastardinhas assustadoras! Uma cena em particular, perto do final do filme, ficou na minha mente durante ANOS. Quando a Globo passou o filme na Tela Quente eu o revi e, claro, fiquei cagado de medo de novo.

Só fui rever essa versão em 2005, quando comprei o DVD do filme, mas quatro anos antes li, finalmente, o livro. Era aquela edição antiga, com o garotinho na capa, diferente da que comprei pouco tempo depois (essa mostrada acima, da Objetiva).

É preciso ter um certo sangue frio pra encarar essa história. Não sei o quanto isso foi consciente de King enquanto escrevia, mas a narrativa nos apresenta, de forma bonitinha, a Família Creed. O médico Louis, sua esposa Rachel, sua filha de cinco anos Ellie, o caçula Gage e o gato Church chegam à sua nova casa em Ludlow, na Nova Inglaterra (aquela região dos Estados Unidos onde há muitas florestas cortadas ocasionalmente por rodovias.). A família trocou a agitação de Chicago pelo aparente sossego do interior. A propriedade fica à beira de uma rodovia movimentada pelo vai-e-vem de caminhões. Atrás da casa, há um bosque que se estende por quilômetros.

Logo no dia em que chegam, a família conhece o octogenário vizinho da casa do outro lado da rodovia, Jud Crandall. Ele e a esposa Norma, vivem ali há muitos anos e Louis faz rapidamente amizade com Jud.

Louis assume o posto de médico-chefe da Universidade local e, pouco tempo depois, Jud leva a família pra conhecer parte do bosque atrás da propriedade dos Creed. Lá, a família descobre que há um cemitério de animais, no qual as pessoas da região enterram seus bichinhos de estimação - a maioria dos quais, mortos justamente atropelados na estrada principal. Obviamente que a família de Louis não reage exatamente bem àquilo, particularmente Ellie que, pela primeira vez encara a possibilidade de seu próprio gato morrer um dia.

As cem primeiras páginas do livro mostram, basicamente, a Família Creed se adaptando à nova vida, enquanto a amizade de Louis e Jud aumenta. Louis vê no velho vizinho a figura paterna que ele nunca teve. Essa certa demora pras coisas começarem a dar errado acaba sendo uma jogada de gênio: ao final do primeiro terço do livro, o leitor está se importando bastante com os personagens.

Como já havia visto o filme quando criança, enquanto lia o livro pela primeira vez, eu já sabia o que iria acontecer, pelo menos os eventos importantes. Mesmo assim, foi uma experiência única encarar O Cemitério aos dezesseis anos. Definitivamente o grande diferencial dessa história é o fato de que, diferente da maioria dos livros água-com-açúcar que existem por aí, ele te leva a uma jornada rumo à escuridão da existência humana. A partir de certo ponto, você tem certeza de que as coisas não vão terminar bem, mas chega a ser impressionante o quanto elas pioram.

A grande ironia é que é esse exatamente o motivo de King não gostar de O Cemitério. O livro é sombrio demais, pesado demais. Praticamente, depois da metade dele, não há simplesmente nenhum alívio cômico ou algo do tipo. É uma jornada a um abismo que, a cada passo, se torna mais improvável de se voltar atrás.

Um dos grandes diferenciais que posso dizer sobre o motivo desse livro ser muito melhor do que seus respectivos fiimes é que nos momentos derradeiros, King coloca o leitor dentro da mente do protagonista e, de certa forma, entendemos os motivos que o leva a fazer tudo o que faz. Como é dito bem no meio da história -  talvez na melhor antecipação da carreira de Stephen King - provavelmente é um erro afirmar que exista um limite para o horror que a mente humana pode suportar. Mesmo assim, a cada passo de Louis rumo ao desconhecido, torcemos sempre para que o pior já tenha passado.

Se você se impressiona fácil, esse livro não é pra você. No entanto, se está curioso pra saber da história, recomendo que leia o livro antes de ver qualquer um dos filmes. Tenho certeza de que irá gostar bem mais.

Por fim, quando o remake foi lançado em 2019, Stephen King deu uma entrevista bem completa sobre o livro ao Entertainment Weekly (texto em inglês). Vale a pena ler.

A PERFEIÇÃO da trilha sonora de Blade Runner

Se alguém me perguntar hoje em dia qual é meu filme favorito, eu digo que são dois: 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968) e Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982). Já foi o tempo em que eu conseguia escolher um só e, afinal de contas, o que há de errado em escolher dois itens de qualquer coisa? Nada.  Um dos pontos altos de Blade Runner é a trilha sonora, composta pelo grego Vangelis. Artisticamente falando, pra mim Vangelis fez pela música de Blade Runner o que H.R. Giger fez pelo design do Alien em 1979. Daquele tipo de obra de arte visceral, na qual a gente se pergunta do quão fundo aquilo veio da alma do artista. A grande maioria das pessoas, quando vê um filme deixa a música passar despercebido. Não que elas estejam erradas, afinal grande parte das trilhas são feitas de fato apenas para serem "panos de fundo sonoro" que só servem para melhorar - ou muitas vezes mascarar - o ritmo da narrativa.
Em Blade Runner, no entanto, a simbiose da música com os demais aspectos visuais e sonoros do filme é perfeita. Nesse caso específico, é um raro caso de álbum que pode ser ouvido separadamente do filme tranquilamente, mas o filme NÃO é o mesmo sem essa trilha.
A sensação que esse álbum me traz é parecida com o icônico The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd. Daqueles pra serem ouvidos num quarto escuro, de preferência deitado confortavelmente, pra relaxar e deixar as tensões de um dia cansativo para trás...
Selecionei o CD 1 de uma edição especial com cinco discos pra postar aqui. Pra mim, a nata dessa trilha está aí.

Como sugestão, se você for ficar no computador depois de ler esse post, dê o play num dos videos abaixo, minimize essa janela e divirta-se.